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Um Saramago visto à lupa numa conversa na Biblioteca Municipal da Lourinhã

Um Saramago visto à lupa numa conversa na Biblioteca Municipal da Lourinhã

No dia em que se homenageou José Saramago no Festival Literário “Livros a Oeste”, o escritor Miguel Real e o jornalista João Céu e Silva estiveram à conversa com João Morales, na Biblioteca Municipal da Lourinhã, num final de tarde carregado de interessantes informações sobre o “nosso” Prémio Nobel.

Perante um público muito interessado, os dois convidados falaram das obras que publicaram sobre José Saramago.

Em “Uma Longa Viagem com José Saramago”, João Céu e Silva apresenta o resultado de dezenas de horas de entrevistas com o escritor, complementadas pelas informações de 24 depoimentos de quem com ele privou e pôde explicar, de outra forma, o que este tinha relatado.

Este livro faz parte de uma série com o título “Uma Longa Viagem com…”, no qual o jornalista tem feito uma aprofundada investigação sobre vários autores portugueses. No caso de José Saramago, foram feitas entrevistas durante dois anos, incluindo a seguir ao período em que o escritor esteve quase a morrer, devido a uma pneumonia. O objetivo passou sempre por colocá-lo a falar sobre cada um dos seus livros.

Miguel Real falou sobre duas obras relacionadas com José Saramago: “A Escrita Infinita” e “Saramago e Pessoa”.

No caso de “A Escrita Infinita”, trata-se de um volume de ensaios sobre o escritor, no qual Miguel Real colabora com um texto sobre a faceta deste como “narrador oral”.

Nesta sessão, Miguel Real contou como José Saramago, depois de ter saído do Diário de Notícias, rumou ao Alentejo, onde ficou a morar numa cooperativa e passou o seu tempo a ouvir histórias dos trabalhadores alentejanos. Segundo o investigador, foi nessa altura que o escritor se libertou das amarras do “neo-realismo” e passou a ter uma escrita muito baseada na oralidade. O resultado foi o livro “Levantado do Chão”, onde a pontuação serve para marcar uma “oralidade escrita”. Ou seja, um livro que deve ser lido em voz alta, porque é assim que está escrito.

Um estilo que continuaria a utilizar em vários livros, incluindo o “Memorial do Convento”, e que só mudaria a partir do “Ensaio Sobre a Cegueira”.

No livro “Saramago e Pessoa”, Miguel Real procura responder à questão: “o que os une e o que os separa”. Na sua opinião, ao contrário do que se possa pensar, são muitas as semelhanças entre os dois escritores. Por exemplo, compara os heterónimos de Fernando Pessoa com a grande importância dos personagens para José Saramago (os quais considera como sendo seus mestres).