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A faceta autodidata de José Saramago foi analisada na Lourinhã

A faceta autodidata de José Saramago foi analisada na Lourinhã

Foi com a distribuição de cópias do discurso de José Saramago na Academia Real Sueca, por ocasião da entrega do Prémio Nobel de Literatura 1998, que se iniciou a sessão da noite de 12 de maio do festival “Livros a Oeste”, moderada por João Morales.

Com o título “De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz”, o discurso apresenta a forma como este viveu a sua vida, assumindo-se como alguém que aprende e ensina. “É uma relação biunívoca, em que o mestre e o aprendiz trocam conhecimentos e a aprendizagem é isso”, explicou o professor Guilherme d’Oliveira Martins (administrador da Fundação Calouste Gulbenkian).

“José Saramago teve um percurso seguro e que é constante”, salientou referindo ainda como o escritor, desde jovem, ficava longas horas a ler na biblioteca. “O que distingue o atraso do desenvolvimento é a capacidade de aprender” e José Saramago tinha uma grande capacidade de aprendizagem.

Guilherme d’Oliveira Martins fez questão de ler muitas passagens autobiográficas de José Saramago, onde este contava a importância das suas raízes familiares “apesar de serem todos analfabetos”.

O jornalista Carlos Vaz Marques, que entrevistou José Saramago diversas vezes, quis também destacar a grande faceta autodidata e esforçada do escritor que venceu o Prémio Nobel. “Ele fez uma rutura com aquilo que seria supostamente o seu caminho”, tendo em conta as suas origens.

Em relação à sua obra, Carlos Vaz Marques disse ainda que José Saramago tinha também uma preocupação em encontrar ideias que imediatamente captava a atenção dos leitores.

Para Guilherme d’Oliveira Martins isso acontece porque o escritor consegue libertar-se do método literário habitual. “É também uma capacidade de recusar a facilidade e de desafiar o leitor”, considera.

Carlos Vaz Marques foi o autor da série documental "Herdeiros de Saramago", onde entrevista escritores de língua portuguesa distinguidos com o Prémio José Saramago. Na sua opinião, todos eles têm a sua própria linguagem, distinta do “nobelizado”, mas não há dúvidas da importância para a carreira destes do prémio que receberam, para os tornar conhecidos do público.

O professor Carlos Reis, comissário das comemorações do centenário de José Saramago, “compareceu” através de uma vídeo-entrevista pré-gravada, com João Morales, tendo feito uma apresentação do programa destes festejos.

Carlos Reis salientou a vivacidade do escritor e da forma como este nunca se acomodou à fama, continuando a ter uma grande intervenção cívica.