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“Livros a Oeste” homenageou vida e obra de Leonor Xavier

“Livros a Oeste” homenageou vida e obra de Leonor Xavier

O festival “Livros a Oeste” prestou uma homenagem a Leonor Xavier, que faleceu em 2021, trazendo a sua filha, Maria Xavier, para uma sessão de apresentação do seu original livro “Adolescência”. A sessão teve lugar na terça-feira, 10 de maio, na Biblioteca Municipal da Lourinhã.

“Adolescência” é um livro póstumo da autora, em que esta publica textos do seu diário da adolescência (entre 1956 e 1960), ao mesmo tempo que os contextualiza e interpreta, à luz dos seus 70 anos.

Na sinopse, a escritora conta como, por acaso, durante umas arrumações, reencontrou o seu diário. “Descubro o retrato de uma época, de um desfile de preceitos e costumes, de adjetivos e expressões hoje desaparecidos em jeito de dizer, no quotidiano da nossa fala”, descreve.

João Morales, que moderou esta apresentação, explicou que o livro acaba por ser “um confronto da própria autora e da pessoa que era quando escreveu estas primeiras linhas”. Por outro lado, “era também um retrato de corpo inteiro daquilo que já era a Leonor”.

Leonor Xavier participou no “Livros a Oeste” em 2015, altura em que esteve à conversa com Maria Antónia Palla. As duas mulheres contaram experiências de vida, de conquista da liberdade e da consciência política.

Nessa sessão, falou-se então do livro “Passageiro Clandestino”, em que Leonor Xavier conta a sua luta contra um cancro. Na altura, a autora salientou que grande parte das pessoas que passou pela doença oncológica, sofre em silêncio para não ser estigmatizada.

Segundo a sua filha, Maria Xavier, este último livro, publicado após a sua morte, foi um projeto muito importante que quis deixar. “Por um lado, foi um projeto de denúncia daquele tempo e como as pessoas foram repreendidas, sofrendo muito” e, depois, fez uma reflexão com o seu olhar atual. Por isso, o livro inclui uma série de testemunhos de adolescentes contemporâneos.

Leonor Xavier considerava que, na altura, as crianças eram “educadas para tristeza” e que para um adolescente era muito difícil conseguir expressar-se. Todos estes textos, de caráter muito íntimo, apresentam uma Leonor Xavier já muito madura e com um olhar muito especial do mundo e da sua relação com as pessoas.

No livro, é visível a sensibilidade que a escritora tinha para com os outros, nomeadamente para com os mais injustiçados, quando tantos passavam fome em Portugal, e também uma faceta muito feminista, numa altura em que o movimento ainda não era um tema de que se falasse.