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Em escolas do concelho: À descoberta do prazer da leitura e da escrita

Em escolas do concelho: À descoberta do prazer da leitura e da escrita

A descoberta da leitura e da escrita foi o ponto de partida para as duas sessões de hoje, 9 de maio, em estabelecimentos escolares do concelho. Os autores convidados foram Sara Rodi, na Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos Dr. Afonso Rodrigues Pereira, e Zetho Cunha Gonçalves, na Secundária da Lourinhã.

Escrever e ler sobre aquilo que nos toca - Sara Rodi ensinou que a leitura é um caminho que se faz
Em Miragaia, Sara Rodi criou uma empatia instantânea com o público, ou não fosse ela guionista de séries televisivas bem conhecidas para adolescentes, como Morangos com Açúcar e Massa Fresca. Na sessão deu a conhecer o seu percurso pessoal e explicou como a escrita surgiu na sua vida. Para um público com poucos hábitos de leitura, Sara Rodi falou, de forma extremamente acessível, sobre como "desbloquear" essa relação e "torná-la numa coisa boa". "A leitura é um caminho que se faz", sintetizou, salientando algumas das mais valias universais do simples ato de ler, como a formação pessoal e cultural e o estímulo da criatividade. A autora explicou, ainda, que a melhor forma para começarmos a trilhar o caminho e crescermos com a leitura é ler sobre temas que gostamos, que nos tocam.

Como mãe de quatro filhos, dois deles na idade da adolescência, Sara Rodi falou também do seu percurso na escrita para o público juvenil, fazendo a ponte com a série de livros que assina - "A Escola de Artes", concebida a pensar naquilo que "move" os jovens, naquilo que para eles é significativo.

Zetho Cunha Gonçalves falou de Fernando Pessoa a propósito de "Um Retrato Fora da Arca"
Uma partilha feliz com o público foi também conseguida pelo poeta, ensaísta e tradutor angolano Zetho Cunha Gonçalves. O autor dinamizou, na Secundária da Lourinhã, "Um(a) Pessoa no seu tempo", a propósito da sua obra "Um Retrato Fora da Arca", que reúne textos escritos sobre Fernando Pessoa, por contemporâneos do poeta e por pessoas que com ele privaram. Trata-se de um contributo ímpar sobre a dimensão pessoal do poeta português mais conhecido de sempre, que escreveu profusamente e sobre os mais variados temas, mas que apenas editou um único livro em toda a vida.

Neste retrato do poeta, organizado por Zetho Gonçalves, é revelada, ou melhor, confirmada uma personalidade em constante "jogo teatral" consigo própria, que consegue ser infantil e sensível, apaixonada e tímida, mas também demolidora nas críticas e manifestos. Dos heterónimos à vida sentimental de Fernando Pessoa, passando pela amizade com Mário de Sá-Carneiro e pelo círculo da geração de Orpheu, Zetho Cunha Gonçalves falou das muitas pessoa(s) que há em Pessoa.

Mas bem antes deste retrato "íntimo" que revelou a complexa personalidade do autor modernista, o angolano Zetho Gonçalves falou também do seu percurso. Explicou que a sua relação conturbada com uma escola castradora e hermética não o motivou nem para a leitura, nem para a escrita. Para fugir à opressão das rotinas impostas no colégio religioso onde era interno, "inventava a liberdade" dentro da sua cabeça. Só, perante a ameaça de ser expulsão, é que reuniu os seus pensamentos num soneto, no qual se despedia dos colegas. "Acabei por não ser expulso, mas foi aí, nesse momento, que comecei a escrever e mais tarde a ler", disse com um sorriso.

Fotografias de Rita Chantre